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sábado, 7 de fevereiro de 2015

Sepé e seus irmãos


“CO YVY OGUERECO YARA”;
bradou Sepé, que subiu;
 a quinta estrela luziu
no cruzeiro e nos aclara!
Uma lança de taquara;
de lá, nos manda um chispaço;
de quando em vez, pelo espaço;
há um clarão na madrugada;
vejo em brasa a sua espada;
pelo calor de seu braço!
Orci Machado




Hoje Dia Nacional de Luta dos Povos Indígenas, lei federal 11696/2008 de 12 de Junho de 2008.
Data em homenagem a morte de Sepé Tiaraju na data de 07 de Fevereiro de 1756.
A luta dos povos nativos(antes donos e hoje quase intrusos nesta terra) pelos seus direitos é antiga e de vez em quando surge um líder a frente de todos, como ponta de lança afiada.
Cada qual com suas situações e decisões, muitos são eles, abaixo cito alguns dos que admiro: 








Cacique e Xamã Oberá(Werá, luminoso em guarany)  
O Grande Profeta guarany
Lutou contra os espanhóis na região entre Argentina, Paraguai e hoje o estado do Paraná, com sua maior arma: Inteligência!




Após ser batizado, revoltou-se contra o sistema religioso e criou um próprio, com liturgia e teorias da criação.
Com seu discurso eloqüente, estimulou os guaranys a excluirem seus nomes de brancos e usarem novamente ao tembetá(osso cravado no lábio inferior) símbolo do guerreiro. Isso pelos anos de 1579.  
Intitulava-se um ser divino, filho de Deus com uma Virgem Guarany e vinha para libertar seu povo.
Incentivou aos guaranys a realizarem danças e rituais de guerra criados por ele ao invés de irem ao trabalho junto aos espanhóis dominantes: surgiam ali as primeiras manifestações de greve na América.
Seu filho Guayraró foi promovido a pontífice, com poder para trocar os nomes cristãos para nomes guaranys. Com isso restituíam a natureza original de sua gente. 
Sua mensagem viajou longe semeando novas idéias aos guaranys escravizados pelos espanhóis da América.
Foi perseguido e desapareceu sem deixar vestígios, sem nunca retornar. 
Dizem alguns estudiosos, que na mesma época houve movimentos semelhantes em outras tribos onde hoje é Peru e Bolívia...



Indio Poty(camarão em tupy), Filipe Camarão, foi chefe indígena que lutou contra a invasão holandesa junto com sua esposa guerreira Clara Camarão, organizando o éxercito indigena a serviço de Portugal na área hoje do estado do Rio grande do Norte.
Entre Holanda e Portugal, escolheu Portugal. Portugal era muito bom no papo e gostava de "misturar" as raças, se aproximando delas(até demais) isso deu maior intimidade com todas as tribos nativas brasileiras.
O Palácio da Prefeitura de Natal leva seu nome.
O Exército denominou a Sétima Brigada de Infantaria Motorizada como Brigada Filipe Camarão.
Há muitos estudos em relação a suas façanhas. 
Morreu em 1648 devido a ferimentos da Batalha dos Guararapes, da qual recebeu honras. Está ao lado de Sepé no livro dos Heróis da Pátria.







 
Chefe Araribóia(cobra das tempestades), tribo Tupy  comandou exército decisivo de mais de 8.000 índios em favor de Portugal para expulsar aos franceses  e anteriormente os holandeses, do atual estado do Rio de Janeiro. 
Mais uma vez Portugal mostra competência no diálogo...
Foi o fundador da cidade de Niterói -RJ, que eram terras suas "doadas" pela corte Portuguesa.
Em sua homenagem a sede da prefeitura foi batizada  de Palácio Araribóia. Assim como praça, esculturas e muitas homenagens. 
Foi nele que o escritor José de Alencar inspirou-se para escrever sua obra "O Guarani". Araribóia morreu em 1589.



Chefe Serigy tribo tupy.
Lutou contra a colonização portuguesa, rechaçando-a por mais de trinta anos, na localidade onde hoje é a cidade de Aracaju, capital de Sergipe.
Comandava tribo com mais de vinte mil pessoas. Seus guerreiros estavam sempre em constante alerta. Tipo cachopa de marimbondo.
Tinha o apoio dos franceses através de armamentos(nesta os portugueses perderam).
Morreu em 1590 vitima de longa batalha de mais de mês contra as forças portuguesas. 
O prédio da Secretaria Estadual de Saúde e Agricultura em Aracaju leva o nome de Palácio Serigy em sua homenagem. Lá há também escultura e muitos estudos referentes aos seus feitos.


Nestes exemplos  citados, cada líder atuava de acordo com a situação. 
Quando era apenas um invasor a resistência era direta e objetiva; Mas a medida que a "febre das Américas" foi despertando ganância$ foram vindo vários invasores: espanhóis, portugueses, franceses, holandeses...
Não havia como lutar contra todos e ao mesmo tempo, coube ao nativo escolher um lado. Acreditando nas promessas e lutando por elas.
Pouca coisa melhorou nestes séculos para eles, mas no tocante as promessas continua igual, talvez pior...


Sepé Tiaraju lutou com as armas que possuía, tentou de tudo em prol do seu Lar.  Não lutava por reis nem pelo papa, mesmo sendo religioso(pois foi alferes e corregedor real)
Acredito que aí está a chave secreta da existência do Tratado de Madrid, não era uma mera troca de terrenos, mas sim o medo das outras congregações católicas de que os jesuítas e Guaranis construissem não apenas um novo país, mas sim uma nova religião desvinculada de Roma.

Mas como vencer as duas maiores potências da época apenas com garra e coragem por muito tempo? 
Conseguiu por seis anos até 07 de Fevereiro de 1756.

Há quem critique seus métodos, alguns até sua existência.

Da minha parte ele é um grande símbolo!

A cidade de São Gabriel está fazendo mais uma vez a Semana em sua homenagem.Pois lá ele morreu a 259 anos atrás. 
Estão trabalhando cultura, história e turismo ao mesmo tempo. 
Um belo exemplo a ser seguido...

Aqui, São Luiz Gonzaga, onde ele nasceu, quase a totalidade dos veículos de imprensa da cidade esqueceram da data de hoje. (divulgaram na semana anterior as belas homenagens de São Gabriel).
Fomos salvo pelo grande Júlio Fontela!
Ouvi, como sempre, o programa Paisagem Missioneira , na Rádio São Luiz e valeu a pena. 
Júlio Fontela é um dos Defensores de Sepé e sabe da importância do legado histórico deixado por ele.

Mas nem uma simples nota referente ao dia de sua morte ou ao Dia Nacional de Luta dos Povos Indígenas...
Parece bobagem mas quando esquecemos do passado repetimos velhos erros e perdemos o rumo.

Dias melhores virão! 
Quanto a nós, temos novidades para logo, não agora...



Depois falarei dos grandes Andresito Guacurari(Andres Guaçurari) e o velho cacique Ñeçu.


Abaixo deixo o poema do professor, poeta e pajador Orci Machado em referência a esta data: Vale a pena ler!




CACIQUE SÃO- LUIZENSE
                I
Há Moaciris florisiensis*
falando  em lenda e em mito;
por isto, então, prendo o grito
com meus irmãos São- Luizenses.
A história só pertence
a quem, no mais, quis fazê-la;
não a quem quis distorcê-la;
com zunzum de mamangava;
que, enquanto se pelejava;
andava a contar estrelas.
                II
Quem não conheceu Sepé
e não viveu a seu tempo;
não enfrentou contratempos
consigo, calçando o pé;
naquele grito de fé;
com ele não conviveu;
que respeite o feito seu;
como guardião missioneiro;
valente, líder, guerreiro
que, nosso chão, defendeu!




                III
Nascido em São Luiz Gonzaga;
no coração missioneiro;
em meio àquele entrevero
que o tempo jamais apaga!
Se alguém ainda indaga,
respondo neste momento;
deixo aqui o depoimento
de um ordenança aprendiz;
Sepé nasceu em São Luiz,
foi aqui seu nascimento!
                IV
Tinha chegado o invasor
para explorar o pago;
fazer aqui todo o estrago;
trazer genocídio e dor!
O cacique de valor;
legítimo rei do trono;
bradou então, com entono,
 com honra e com galhardia;
ecoando até nossos dias;
“esta terra aqui, tem dono”!





                V
Me encontrara em São Lourenço
e me levara consigo;
enfrentando o inimigo;
naquele momento tenso.
A mata era nosso incenso;
vida, tapume e escudo!
O inimigo era graúdo;
com pesada artilharia;
que a lança enfrentaria;
com valentia, contudo.
                VI
Esta é a nossa experiência
e não há quem a distorça;
mas se sabe, contra a força
nunca houve resistência;
mesmo assim, esta querência
 e seu povo guarani
ouve o eco guri;
que é cerne alma e raiz;
vibrando aqui de São Luiz
ao Cerro do Batovi!





                VII
Dali ao Caiboaté Grande
e à velha Sanga da Bica,
há um eco da história rica;
que preludiara o Rio Grande!
Não há, pois, quem nos comande
ou mude essa trajetória;
distorça ou desminta a história;
também, na luta, tombei!
Do espaço, um dia voltei;
pra defender-lhe a memória!
                VIII
Tombei três dias depois.
Caiboaté Grande, um lamento;
 com outros mil e quinhentos
que havia, além de nós dois;
com Ñinguirú também,pois;
o que mais se esperaria?
Contra toda a artilharia
invasora,mui pesada;
a flecha da nossa indiada;
eu sei, não resistiria!





                IX
De lança e espada em punho;
num barbaresco matiz;
esse filho de São Luiz
riscou, da história , o rascunho!
A poesia é o testemunho
disso tudo e estou pronto;
sem aumento, nem desconto;
desses instantes brutais;
pra quem quiser saber mais
eu contarei, ponto a ponto!
                X
Traído e atocaiado
na linguagem do armistício;
dando a vida em sacrifício;
pelo seu torrão amado!
Não fora canonizado
por descendentes de atrozes
perseguidores, algozes;
que o seguiam ato a ato.
É rei e Santo, de fato;
no aval de milhões de vozes!





                XI
“CO YVY OGUERECO YARA”;
bradou Sepé, que subiu;
 a quinta estrela luziu
no cruzeiro e nos aclara!
Uma lança de taquara;
de lá, nos manda um chispaço;
de quando em vez, pelo espaço;
há um clarão na madrugada;
vejo em brasa a sua espada;
pelo calor de seu braço!
                XII
Do lunar da sua fronte
fez o S da sua espada.
“ Sua marca consagrada”;
que alumbra o novo horizonte!
E a fonte? Eis aqui, a fonte;
tenho dito e assinado;
quem quiser ser informado
e sendo índio de fé;
a respeito de Sepé,
pergunte ao Orci Machado.
 *Denominação usada pelo autor para identificar membros de um grupo de “historiadores” que ousou chamar os farroupilhas de abigeatários;  alguns até chegam ao absurdo de afirmarem que Sepé Taraju é um mito ou uma lenda. Quanto à expressão prender o grito, já a definimos em outra oportunidade.
SLG11/01/2015
Orci Machado                      
orcimachado@hotmail.com










quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

91 Anos

 Dia 30 de Janeiro de 2015, comemoramos o dia do Pajador lembrando do nascimento do maior de todos: Jayme Caetano Braun.
Completaria 91 anos caso vivo fisicamente estivesse.
Fizemos um abraço simbólico ao redor do seu Monumento, para demonstrar a importância de sua Arte para nós, seus admiradores.